Jogada numa diagonal encostada na janela do Uber eu me pego na reflexão do século da minha vida. O motorista, meu xará de boina ouvindo uma espécie de Pink Floyd, me fez levantar as sobrancelhas com uma tal frase que distribuia ao telefone - e também aos ventos e à minha atenção - com alguém muito importante pra ele. Dizia, paciente e não aflito: “tudo demanda tempo…”
Tudo demanda tempo, dizia ele, e repetia também. Ou seja, cada singular escolha de nossas ações vai nos demandar um tempo, seja ele qual for. Somos gastadores de tempo. Acumulamos esperas, filas, os “vou dar uma passada”, burocracias, escolhas bobas que talvez nos façam bem tipo aquela pausa pro cafezinho e depois eu continuo. Hoje eu vou ficar com a minha mãe, hoje eu não vou fazer nada. Hoje eu tenho que trabalhar, será que estou vivendo ou só apertando parafusos com Chaplin? Uma mão no chat da reunião, a outra no google, um olhar pro nada, um dia soturno. Tempo voa e quando vê ja foi. Quando vê já foi uma hora. Quando já se viu, menina, passou um ano. Tem um ano que a gente não se vê? Parece que foi ontem. Hoje o tempo voa, amor. Escorre pelas mãos. Mesmo sem se sentir. O que queremos sentir, afinal? Quem vai nos dizer, o senhor do tempo? Ou será que nós somos os senhores do nosso próprio tempo? Por que a pressa esperando pelo fim de uma semana? Tomara que esse ano termine logo. Tomara que esse dia acabe. É isso mesmo? A moeda mais preciosa que temos está desvalorizada e a reflexão vale pra cada segundo que uso digitando neste computador, pra cada minuto que uso pra pensar na próxima paroxítona e pra cada hora que uso pra pensar o que farei com este texto.
Tudo demanda tempo, como dizia Julio. Qual é o seu tudo?